7 de fevereiro de 2014

Ele é o leão que sempre esteve lá


- Não acho que seja um desgraçado -  disse a grande voz.
- Mas não foi falta de sorte ter encontrado tantos leões?
- Só há um leão - respondeu a voz.
- Não estou entendendo nada. Havia pelo menos dois naquela noite. [.. .] Como sabe disso?
- Eu sou o leão. Fui eu o leão que o forçou a encontrar-se com Aravis. Fui eu o gato que o consolou na casa dos mortos. Fui eu o leão que espantou os chacais para que você dormisse. Fui eu  o leão que assustou os cavalos a fim de que vocês chegassem a tempo de avisar o rei Luna. E fui eu o leão que empurrou para a praia a canoa que você dormia, uma criança quase morta, para que um homem, acordado à meia noite, o acolhesse.
- Então foi você que machucou Aravis?
- Fui eu.
- Mas por quê?
- Filho! Estou contando a sua história, não a dela. A cada um conto a história que lhe pertence. 
- Quem é você?
-  Eu mesmo- respondeu a voz, com uma entonação tão profunda que a terra estremeceu. E de novo: - Eu mesmo - com um murmúrio tão suave que mal  se podia perceber e parecia, no entanto, que esse murmúrio agitava toda a folhagem em volta.

As Crônicas de Nárnia - O Cavalo e seu menino 
CS Lewis