Faz um tempo que identifiquei que eu precisava me conhecer mais. Entender minha personalidade e meus gostos, buscar meus sonhos, minhas principais formas de agir e pensar, e entender por que faço o que faço. O percurso do autoconhecimento, especialmente por meio de terapia é saudável e, para mim, tem sido muito valioso.
Mas percebi que esse exercício de "olhar para si" é um abismo, um caminho sem uma linha de chegada e que vicia. Há sempre questões sobre nós para conhecermos, pois somos complexos e mutáveis. E quanto mais a gente fica buscando nossas questões, nosso eu, menos a gente passa tempo olhando para algo além da gente. O que pode nos levar ao egoísmo, ao foco exacerbado no "eu", nos meus problemas, no meu desejo...
Se buscamos o autoconhecimento para preencher as lacunas do "quem sou eu", entramos em um labirinto existencial. Acontece que para quem crê em Deus e na Bíblia como eu creio, há uma camada mais profunda para adentrarmos em relação o autoconhecimento. Essa camada diz respeito a identidade, e ela começa em Deus, que é nosso criador. Segundo Rick Waren, em Uma vida com propósitos (2013, p. 22): "Somente em Deus descobriremos nossa origem, nossa identidade, nosso significado, nosso propósito, nossa importância e nosso destino". Nesse sentido, o autoconhecimento nos ajuda em aspectos de personalidade, das formas de lemos o mundo e agimos nele. Nossa identidade, por sua vez, só é respondida em Cristo.
Para mim esse entendimento foi uma revelação do Espírito Santo, porque eu estava misturando as coisas. Passei mobilizar toda minha preocupação, meu tempo, minhas expectativas em mim mesma, sob o argumento de que eu precisava me entender. Passou a ser "normal" olhar muito mais para mim: minhas preocupações, meu futuro, minhas vontades, meu, eu, meu, eu...por sua vez, o outro, os problemas do mundo, o meu próximo foram se distanciando. E isso não tem nada a ver com o Evangelho.
O Evangelho diz da gente amar o outro como a nós mesmos, e diz da gente perder a nossa vida para encontrar.. ou seja, precisamos nos amar, mas nessa mesma medida amar o outro. Não ficar presos no "eu", mas abrir mão das nossas vontades, "perder nossa vida" para alcançar a verdadeira vida. É o contrário de ficar alimentando o ego, é ter um ego transformado pelo evangelho. Timothy Keller em Ego Transformado fala de pensar menos em nós mesmos: "Esse é o bendito autoesquecimento; é a humildade do evangelho. É não pensar em mim mesmo como se fosse mais do que sou, como nas culturas modernas, nem pensar em mim mesmo como se fosse menos do que sou, como nas culturas tradicionais. É simplesmente pensar menos em mim mesmo".
E ao pensar menos em nós mesmos, temos tempo de pensar no outro, de amar e servir para além do nosso eu. Paramos de buscar nos provar, porque já temos a consciência de que nossa identidade está em Deus, e nos desobriga de ter que saber, ter que entregar, ter que ter as virtudes esperadas.
Essa é a liberdade. Essa é a autenticidade.