Manhã de domingo.
Primeiro dia de dezembro.
Ano: 2024.
Eu, Beatrice Corrêa de Oliveira, sentada à mesa, no meu quarto em Belo Horizonte, aos 31 anos. Pensei em escrever. A primeira coisa que eu pensei, é o quanto eu já fui, nesses 31 anos. E esse blog é prova disso, eu registrei muito por aqui: são 270 postagens, diz a estatística.
Eu não me considero alguém que teve sonhos ambiciosos, sabe, daqueles de querer ser famosa, ou ter muito dinheiro, ou ter grandes conquistas. O que eu me lembro de imaginar era uma versão de mim adulta, que parecia feliz no dia-a-dia, sendo uma boa profissional, tendo uma casa, uma família, um carro e sendo elegante.
São esses elementos que estão presentes nas lembranças de como eu me imaginava adulta: profissão, bem ligada àquela ideia de filmes em que a pessoa vive em uma correria, mas dá conta de tudo; minha casa/carro, no sentido de ter meu próprio dinheiro e me sustentar com ele; a minha aparência idealizada como sendo alguém considerada bonita para os outros, de forma que então eu me sentiria bonita; e por fim uma família, no sentido de ter um homem que se apaixonou por mim, e eu por ele, e a gente decidiu se casar e ser feliz juntos.
Cara, quantas questões essa "fantasia da Bia adulta" carrega. Acho que é por aqui que quero começar a escrever. E volto a como eu comecei esse texto. Hoje, aos 31 anos eu estou sentada sozinha no meu apartamento em Belo Horizonte pensando que seria legal voltar ao blog que eu comecei em 2009. Minha motivação: eu gosto de escrever. Então faço uma correção, porque parte das minhas idealizações também foi ser uma jornalista, e talvez sim, eu já tenha sonhado em ser reconhecida pelos meus textos, do blog.
Uma observação que eu preciso fazer sobre os meus textos no blog: eu escrevia e tempos depois eu editava. A intenção era adequá-los para a imagem que eu queria passar, e geralmente tinha um destinatário que eu torcia para ler meus textos e se impressionar com a pessoa inteligente/legal/profunda que eu era. Logo, eu oscilei entre meias vulnerabilidades, orações, reflexões. Todas elas são parte de mim sim, mas com contenções e recortes pensados para agradar um outro que eu desejava desperadamente que validasse, e o blog era uma tentativa de mostrar para ele o quão profunda e interessante eu era.
Feito o parênteses sobre a realidade dos textos até aqui, me proponho a tentar fazer mais registros de como realmente tenho me sentido, porque nos útimos 5 anos é que me entendi como alguém que chegou na vida adulta. E a pergunta imediata que a gente se faz: essa vida adulta se parece com a que você fantasiava? Mas mais do que isso, agora que é adulta, você gostaria que a sua vida adulta fosse como você fantasiava?
A Bia criança não tinha ideia da complexidade das reflexões que a Bia de 31 anos se faz. Entretanto, não é surpresa para ninguém que justamente as questões que eu me coloquei quando eu era criança são as que eu lido com elas; entranhadas, claro, pelo meu entendimento de quem sou e o que eu dou conta de entender do mundo e da existência.
Acho que é isso que quis vir registrar. Que eu quero vir registrar mais. De uma forma honesta. E isso com a expectativa de me ajudar a não desmoronar com a rejeição amorosa que eu senti ontem, não desmoronar com as tentações diárias, não desmoronar com as frustrações de expectativas, e não desmoronar com as dificuldades no trabalho.