Minha pauta da terapia nos últimos dias foi a constatação de que talvez a vida esteja entre eu saber quem eu sou e colocar em ação meus objetivos e responsabilidades, e ao mesmo tempo eu me divertir fazendo tudo isso. A ideia não é que existe um ponto de equilíbrio, um percentual ideal de cada, que aí sim eu vou viver bem. Tenho percebido que eu preciso a todo tempo desses dois elementos, que eu vou chamar de intencionalidade e diversão.
A intencionalidade é a consciência de quem sou e meus valores. Porque isso vai me ajudar a passar pelos mais diferentes tipos de dias e situações e me lembrar que eu não sou um corpo que vive na inércia e que só quer sobreviver ou ser feliz. Eu sou Beatrice Corrêa de Oliveira; creio em Deus e em seu filho Jesus; creio que a Bíblia traça a minha cosmovisão; valorizo minha família e pessoas que Deus pôs à minha volta. Tenho colocado como valores: Fidelidade, hospitalidade e senso de eternidade. E isso quer dizer que vou atravessar meus dias, sabendo que muitas situações virão (dias péssimos no trabalho, notícias ruins, oportunidades de me orgulhar, dias que não dá vontade de sair de casa, dias que dá vontade de só murmurar ou culpar alguém; dias em que eu penso que não presto pra nada, dias em que me acho autossuficiente, dias de cólica...) e vão me levar a viver a rotina corrida, ou então a querer me recolher e viver rotina nenhuma. Nenhuma das duas possibilidades, seja com muita responsabilidade ou abrindo mão das responsabilidades e querendo ficar apenas na minha cama me fará viver a vida que é minha para viver, se não for de forma consciente. E se não for divertido.
Por diversão não estou dizendo que tem que ser prazeroso o tempo todo e só me fazer rir. Não é o foco no hedonismo.
Mas eu preciso aprender a ser responsável e adulta de uma forma leve. Fazer o que eu preciso fazer não pela pressão de que eu tenho que ser madura; não porque eu preciso "introjetar o mindset" de que "adulto faz o que é preciso", mas porque eu sou intencional em quem eu quero ser, por isso faço a escolha das responsabilidades que eu vou bancar, mas faço isso encontrando a graça que é fazer isso. É algo diferente da positividade tóxica, de inventar um lado bom no que eu estou fazendo. Acho que a estratégia que eu estou utilizando é mobilizar o lúdico. Em vários momentos eu imagino a Bia criança, sonhando viver o que eu estou vivendo hoje. Como ela encararia a minha rotina, como ela acharia o máximo a minha mesa de trabalho, as reuniões importantes que eu tenho para participar, como ela me acharia forte em conseguir fazer os exercícios da academia... e tem funcionado.
Passei alguns meses apavorada com a ideia de que a cada dia a mais que eu vivo eu estou ficando velha, a sociedade está evoluindo, eu não vou conseguir acompanhar e daqui a alguns anos eu serei ultrapassada. E com isso confesso que me veio um sentimento de desilusão com a vida, se achar que não sei se ela valia tanto assim, porque é como se eu já tivesse vivido meu auge e agora estou em uma redução de danos, sabendo que não sou mais tudo aquilo que eu já poderia ser.
Não é que estou ok com a ideia do envelhecimento, mas tenho olhado mais para o aspecto integral da vida do que para essa ideia de crescente ou decrescente dependendo do ponto de vista. E por esse aspecto integral eu digo uma pessoa única e tem uma vida para viver. Essa vida tem estágios, mas não são os estágios que dizem quem é a pessoa. Ela já é. Os estágios são para ser vividos. E um dia eles vão acabar. Mas o ponto alto da história não são os estágios e sim o ser. Ser enquanto a vida estiver para ser vivida. E por isso é tão importante a intencionalidade e a diversão.
Acho que é isso.