Meu irmão se formou no segundo semestre de 2016 e como presente de formatura organizou uma viagem; ele, eu e nossos amigos (mais especificamente 7) então fizemos um Mochilão para os países do Leste Europeu, passando pelas cidades: Viena, Budapeste, Cracóvia, Praga e Berlim (que já não é Leste Europeu, mas enfim).
A primeira pergunta que nos fazem é: por que esses países? Paris, Londres, Amsterdã não seriam cidades mais bonitas e legais de se visitar? Bem, depende muito do que se deseja do Mochilão. Nós queríamos ir a lugares diferentes, fugir do que a gente já tem no mínimo uma noção de como é, conhecer a história desses lugares que a gente já ouviu falar (inclusive falar bem), mas não tínhamos muita ideia de como era.
Em seguida, depois de uma madrugada de emoções muito frio em Bratislava, chegamos em Budapeste, capital da Hungria. Budapeste é uma cidade que fez parte do Império Austro-Húngaro, então também tem lindíssimas construções. Para mim, foi o momento mais intenso da viagem, já que a cidade tinha muitos lugares a serem visitados, e cada um com uma particularidade: o Parlamento é maravilhoso, o Castelo de Buda e todo complexo na parte alta da cidade são lindos, a praça da igreja de St Mathew é fofa, o rio Danúbio e a ponte das correntes com a vista para o castelo de Buda é a paisagem mais bonita da cidade, a vista da cidade da Cidadela, os ruin Pubs, as águas termais. Conhecer Budapeste foi sensacional. A Hungria é um país que passou pela invasão Nazista antes da Segunda Guerra Mundial e depois pela ocupação comunista. Muitos judeus húngaros morreram nos campos de concentração. Muitas pessoas sofreram com a ditadura no regime comunista que só acabou em 1989. E até por isso sentimos um clima diferente da Áustria: uma cidade mais cinza, as pessoas com o semblante fechado, muitas pessoas em situação de rua. Além das boas lembranças da beleza de Buda outra coisa nos marcou: a falta de simpatia das pessoas com quem lidamos em Budapeste nos restaurantes, na rua, nas lojas. No geral, as pessoas não se mostravam felizes em nos atender: não sabemos se é uma característica do povo na cidade, se é o fato de 9 turistas latinos os incomodarem, mas fato é que brincamos que nunca fomos tão expulsos na nossa vida como fomos nos 4 dias em Buda. Mas hoje a Hungria é uma República Parlamentar e está tentando trilhar o caminho para a democracia e do desenvolvimento humano.
Cracóvia foi nosso destino após Budapeste. A única cidade que fomos que não era capital. A capital da Polônia é Varsóvia, mas devido à proximidade de Auschwitz, Cracóvia foi nosso destino. É uma cidade bem pequena, lembra muito nossas cidades históricas. Ficamos próximos a uma praça central, que abrigava uma igreja, o mercado central e um Christimas Market maravilhoso. Todas as cidades que passamos tinha um Christimas Market, uma espécie de "feirinha de Natal", toda fofa, enfeitada e que vendia comidas, souvenirs, enfeites... Cracóvia foi a cidade que mais aproveitamos a comida. O que dizer dos Pierogi's? São uma espécie de pastel, mas com uma massa mais gostosa e diversos recheios. Em Cracóvia visitamos o Castelo de Wawel, um belo lugar com vista para o rio, torre e uma igreja. Visitamos também o museu da Fábrica de Schindler. Uma experiência de muito aprendizado sobre o Nazismo e a crueldade que os judeus foram submetidos.
Castelo de Wawel
Especificamente sobre Auschwitz, foi intenso. Um campo de concentração que denuncia a nossa capacidade de cercear a liberdade e sonhos das pessoas. Um lugar que era um vilarejo em que pessoas viviam suas vidas normalmente e que de repente são expulsas para se construir um lugar de trabalho forçado, de experiências médicas com judeus e de friamente assassina-los. Especificamente no dia em que fomos estava chovendo bastante, e mesmo muito agasalhados e calçados pudemos sentir um frio e perceber a tristeza que a atmosfera daquele lugar carrega. Entramos em algumas casas, nos explicaram o funcionamento do lugar, vimos o trem que trazia judeus de Cracóvia e o lugar em que eram separados os que iriam para o trabalho forçado e os que já seriam encaminhados às câmaras de gás. Como me esquecer da montanha de cabelos que foram ajuntados de quando se raspava a cabeça dos judeus quando chegavam lá. Sem contar a pilha de óculos e outros pertences que lhes era tirados quando chegavam. Em pensar que cada um desses óculos pertencia a alguém, que tinha uma história, identidade, sonhos e planos e de repente foi arrancado de sua família, colocado em um trem, e teve sua vitalidade arrancada. Foi um dia de muita reflexão, de perceber até aonde a natureza humana pode ir, e o quanto somos maus sem o amor de Deus em nós.
Auschwitz II
No dia 29 de dezembro fomos para Praga. Particularmente era a cidade que eu mais desejava conhecer. Meu sonho era ver a biblioteca barroca e a Charles Bridge. Praga é uma cidade que se consolidou na era medieval, então podemos ver na praça principal essas características e histórias dessa época: principalmente o famoso relógio e duas igrejas. Em Praga também temos alguns bairros judeus, que na época do nazismo foram guetos, em que a população judia viveu de forma precária e desumana, mas que hoje podemos conhecer e visitar as sinagogas, o cemitério e memoriais. Praga também tem heranças do império Austro Hungaro e a dinastia Habsburg. Temos o Castelo de Praga e a catedral mais bonita que visitamos, na minha opinião, a Catedral de São Vito. Praga ainda tem belos parques, a ponte de Charles, que é maravilhosa, tem sua história da época do comunismo e a Primavera de Praga e ainda tem a parte mais moderna.
A única coisa que não superou minhas expectativas foi o que mais queria ver: a biblioteca barroca de Clementinum, que nas fotos parece grande e mágica, mas na realidade você só pode ver de fora e é beeeem pequena. Ah, e a noite de ano novo não foi assim tão memorável. Foi legal, mas devido ao cansaço, ao fato de que a cidade estava lotada, e ao frio não nos esforçamos tanto para torna-la inesquecível. Resultado: 1 da manhã a gente já estava no hostel, prontos pra dormir.
Ficamos 3 dias em Praga e nosso último dia foi uma correria, porque ainda não havíamos visto tudo o que tinha para ver. De comida, Praga me marcou pelo Trdelník, que é uma espécie de pão-doce enroladinho, que pode ser recheado. Uma delícia.
A única coisa que não superou minhas expectativas foi o que mais queria ver: a biblioteca barroca de Clementinum, que nas fotos parece grande e mágica, mas na realidade você só pode ver de fora e é beeeem pequena. Ah, e a noite de ano novo não foi assim tão memorável. Foi legal, mas devido ao cansaço, ao fato de que a cidade estava lotada, e ao frio não nos esforçamos tanto para torna-la inesquecível. Resultado: 1 da manhã a gente já estava no hostel, prontos pra dormir.
Ficamos 3 dias em Praga e nosso último dia foi uma correria, porque ainda não havíamos visto tudo o que tinha para ver. De comida, Praga me marcou pelo Trdelník, que é uma espécie de pão-doce enroladinho, que pode ser recheado. Uma delícia.
Charles Bridge - vista mais maravilhosa de Praga
Nosso último destino, mas não menos interessante, foi Berlim. Já não é mais Leste Europeu, e em pequenas coisas notamos a diferença: era uma cidade bem maior, onde vimos muito bem mais negros, já contava comum sistema de metrô que liga a cidade toda, e a própria Alexsander Platz, que é um centro de compras gigantesco com várias lojas de marcas multinacionais, representava bem essa cidade capitalista e cosmopolita. Por ser a última cidade do Mochilão, eu já não estava mais no clima de aprender e desbrava a cidade; eu queria mais era relaxar e ser uma turista gourmert, se assim podemos dizer, haha. Preciso destacar o hostel que ficamos, Circus Hostel, porque foi um dos mais em conta e muito fofo, confortável, com um café da manhã maravilhoso. As cervejarias também são bem famosas em Berlim e nós fomos em uma muito legal com uma comida ótima (aquelas que vão em uma cervejaria, mas falam é da comida, porque não tomam cerveja) que se chama Berlim Hofbräuhaus: é uma cervejaria tradicional, muito grande com mesas enormes e bancos rústicos, e os garços usam roupas típicas. Visitamos o muro de Berlim, no Free Walking Tour conduzido por um australiano e que não consegui entender quase nada, mas valeu a experiência. Mas o que mais me marcou em Berlim foi o Museu Judaico de Berlim, lugar que aprendi sobre a história dos judeus e o desenrolar do nazismo. Foi sensacional. Segue explicação do Blog Simplesmente Berlin sobre o Museu:
O impressionante prédio do arquiteto Daniel Libeskind é uma obra de arte da arquitetura moderna que por si só já é uma atração. É um prédio cheio de simbolismos que conecta sua arquitetura com o tema do museu – seu desenho, suas formas, suas estruturas em si recriam atmosferas e contam histórias. A história dos judeus na Alemanha, a perseguição e o holocausto serviram de inspiração para Daniel Libeskind, um filho de judeus sobreviventes do holocausto, desenhar o prédio. O arquiteto chama seu projeto de “Between the Lines” (Entre as Linhas), pois para ele “são duas linhas de pensamento, organização e relacionamento. Uma é uma linha reta, mas quebrada em muitos fragmentos, a outra é uma linha tortuosa, mas que continua indefinidamente”. O prédio em forma de zigue-zague para muitos lembra a estrela de Davi despedaçada. A fachada do prédio é revestida de zinco e tem janelas que mais parecem cortes estreitos e outras com formatos diferentes e inusitados - BLOG SIMPLESMENTE BERLIM
Muro de Berlim
Por fim, só tenho que concluir que a viagem foi extraordinária, entrando para a coleção das boas lembranças. E com as lembranças, ficam os aprendizados:
- A que ponto o ser humano pode chegar com sua necessidade de ter poder e seu discurso de ódio: o nazismo não tem 100 anos. Não é algo antigo, que ficou no nosso passado. É o recente lembrete de até onde nossa falta de entendimento de que somos todos iguais pode ir. Como a natureza humana é caída e precisa de Deus, o verdadeiro amor que lança fora todo o medo.
- Nós somos muito ocidentais: nossa forma de pensar, nosso comportamento, nossa sociedade baseada no cristianismo. Quando a gente visita esses países que são Europa, mas que estão mais no seu oriente, a gente já vê sociedades democráticas, porém diferentes da nossa.
- Países frios são lindos para se conhecer. Mas definitivamente prefiro meu Brasil com seu céu azul, e com o sol para alegrar meu dia.
- Como a experiência de conhecer novos lugares e culturas, de preferência com os/as amigos/as, nos enriquece e me faz feliz!