12 de junho de 2017

A auto sabotagem ou autocomiseração?

Sou a garotinha que muito cedo descobriu que se você faz o que as  pessoas esperam que você faça, você é reconhecida e recompensada por isso. E quem não gosta de ser reconhecida, não é mesmo? Desde pequena eu decidi ser comprometida, estudiosa e disciplinada; e por isso, tive reforço positivo dos meus pais, que ficavam orgulhosos de ter uma filha com boas notas, dos meus professores, que se sentiam realizados de ter uma aluna que prestava atenção e correspondia às expectativas deles, e dos meus amigos, que me viam como a inteligente e certinha. E eu fazia tudo isso sem peso, por prazer. Mas hoje eu percebo, que muito além das atividades, existia um sentimento de realização na forma como as pessoas me enxergavam.

Essa menina cresceu, fez faculdade e iniciou a vida profissional. 

Eu costumo dizer que a "vida real" se inicia quando você começa a trabalhar.  Isso devido à carga horária, às responsabilidades e expectativas que lhe são colocadas, e a missão de administrar seu salário para pagar as contas, entre outras coisas. Mas para mim a vida profissional me mostrou que não sou tão boa assim. Percebi que prestar atenção no que alguém está falando, ler um livro e depois reproduzir nas provas o que eu li é infinitamente mais fácil do que ter a habilidade de se comunicar bem, de conseguir fazer leitura do contexto e se comportar de acordo com o que a ocasião está exigindo, mesmo que nada esteja claramente dito, de ser criativa o suficiente para ver um problema e propor soluções.

Boa parte da minha vida se resumiu a ser boa da maneira que eu entendi que era ser boa: reproduzindo comportamentos esperados de mim. E isso cabe uma longa discussão sobre o modelo de educação que temos nas escolas, que ainda compreendem a educação como "passar conteúdo" e não desenvolver pessoas, estimulando suas habilidades e potenciais. E então, quando você se depara com a vida real, ser boa aluna não é suficiente. Eu estou precisando me reinventar, encontrar em que de fato sou boa, reduzir as minhas expectativas sobre mim mesma e me esforçar muito para ser uma boa profissional.
E vou confessar: é difícil e é cansativo. Desde que constatei essa minha situação, eu transito por dois sentimentos diferentes: o da autosabotagem e o da autocomiseração. Isso porque algumas vezes eu duvido de mim mesma, duvido da minha capacidade de conseguir conquistar algo. Me esqueço de que ainda que com todas essas limitações, essa não é uma caminhada solitária; se Deus me deu graça de chegar até aqui, é porque existe um esforço e um potencial que podem ser trabalhados. Deus é o Criador, que me formou, e me dotou de dons e habilidades, que ainda que mesmo não sendo totalmente desenvolvidos, eles estão sendo utilizados e chegar até aqui é uma prova disso.
Por outro lado, o sentimento da autocomiseração bate à porta. Ele vem em forma de desânimo, de à essa altura do campeonato perceber que não sou tão boa assim e de ficar decepcionada comigo mesma. E eu entendo como autocomiseração porque se trata de uma resposta do orgulho (de achar que era algo e perceber que não se é) ao um coração ferido, decepcionado consigo mesmo. 

Sei que  tanto a autosabotagem como a autocomiseração são um mecanismo de defesa diante de um sentimento de incapacidade. De fato tenho enfrentado desafios no meu cotidiano. Dia-a-dia desejo suprir as expectativas das pessoas e de um ideal de pessoa que eu defini para mim: preciso me comportar bem, preciso ter boas ideias, preciso ter opiniões inteligentes, preciso ser simpática, preciso me comunicar bem... tudo isso vira um fardo, de atender a tantas expectativas, que eu criei para mim, que eu deixei que as pessoas criassem. Mas é claro que eu não dou conta. E que ser humano nenhum dá conta de ser tudo o que a sociedade espera que ele/ela seja. Nesses momentos, me lembro de que nosso Senhor deseja uma vida abundante para nós, que não está relacionada em cumprir as expectativas das pessoas, mas de sermos completos nELE. E o texto que li em Salmos ontem ardeu em meu coração como uma resposta dEle que vou precisar lembrar todos os dias, nos meus dilemas do trabalho.

Ele é o Deus que me reveste de força e torna perfeito o meu caminho 
Salmos 18:32

Só o Senhor me dá forças para seguir e me dá condições de cumprir tudo o que preciso, da melhor maneira que eu puder. Eu não vou fazer tudo perfeito, mas creio que Ele vai tornar perfeito o meu caminho!