22 de janeiro de 2024

A vida está acontecendo. 

Por idealização, vontade de controle e ansiedade eu acabo não vivendo o momento aqui-e-agora. 

Eu anestesio a vida. Não fico nela por inteiro. 

O sentimento é como se ao viver o momento eu pensasse: ah, mas ele não está do jeito que eu esperava, vou começar a olhar para o futuro, para ver como eu posso controlar/melhorar isso. E eu não curto o momento. E ele passa, quando chega outro eu continuo achando que há algo para controlar/melhorar.  

Eu só tenho o aqui e agora da forma como ele está. Eu já estou pronta, eu posso viver de forma inteira o que eu tenho como eu sou. 

Eu preciso acreditar que o que eu sou é suficiente. Sem medo. Eu preciso estar por inteiro.


Ilustração de: André Pereira

20 de novembro de 2023

Texto em comemoração aos meus 30 anos

Ei, gente!

Essa pessoa que vos fala hoje faz 30 anos. E não, não foi “De repente 30” , foram 10957 dias de vida. E eu queria pedir licença, para dividir com vocês o sentimento de estar aqui hoje, com muita gratidão.

Não dá pra começar esses agradecimentos sem pensar: caramba, como Deus é bom! Não só pela a vida, família, saúde e amigos, mas especialmente porque ele traz sentido a essa existência de quase 11 mil dias. Uma graça surpreendente, que por meio da sua Palavra, de Jesus e das pessoas, me dá fundamentos, pertencimento e direção.

As primeiras horas desses 30 anos já foram marcadas por Maria e Teda. E novamente só me vem: Caramba, como Deus é bom! Mãe e pai, eu amo vocês. E sou imensamente grata pelo cuidado, renúncia, paciência, exemplo, carinho, parceria e amor. Não são palavras aleatórias, eu sei e recebi de vocês cada uma delas: cuidado, renúncia, paciência, exemplo, carinho, parceria e amor. E logo em seguida veio Dedé. Alguém para eu dividir os pais, os brinquedos, mas especialmente, a vida. André não está aqui para arrasar cantando Black Eyes Peas no karaokê, mas esses 30 anos foram tão mais recheados (de brincadeiras, brigas, musicas, coisa besta e cultura) por conta dele. Te amo, irmão. Mãe, pai e Dedé, obrigada por nossa casa ter sido um lugar seguro, mesmo que o nosso conceito de casa não ter um endereço tão fixo, já que a gente se mudou pelo menos 7 vezes só lá em Ipatinga, e depois eu mudei para 230 km de distância, e depois vocês passaram 9 anos a 7mil km de distância.

E cada um de vocês, amigos e familiares. Essa caminhada ficou tão mais feliz porque ela foi acompanhada de pessoas.  E mais bonito de ver, é essa reunião hoje envolve pessoas das mais diversas etapas. Gente da minha segunda série, quando minha cantora preferida era a Sandrinha; amigas da Pibani; amigas do ensino médio (essa já é a fase Apocalipse 16); amigas da faculdade e amigos da célula (fase bh); e os amigos que o Senhor me presenteou em 2023 da Ponte. Obrigada por caminharmos juntos, por dividirmos os dias (sorrindo ou chorando) e por me ensinarem. Como eu amo um “bora ali?” Cada um aqui é, com sua particularidade uma forma palpável do cuidado de Deus nesses 30 anos.

E é isso, gente. Confesso que a imaginação muito fértil da Beatrice de 10 anos de idade não conseguiu traçar o que seriam 30 anos. Faça uma análise combinatória de dias de: de sorrisos, amigos, lanches, música, terapia, escrita, praia, séries, aprendizados, viagens, amores, pudins, trabalho, aula de surf (2 horas de 11 mil dias mas merece menção), leituras, realizações, perdão, Choro, medo, dor, angústia, insuficiência, vacilos, erros, perdas, pecado, desespero, indiferença, coração partido, ansiedade, caminhadas. Tudo isso misturado, acho que assim chegaremos aos quase 11 mil dias de vida.

É massa olhar e perceber que é a soma desses dias ordinários com Deus + essas pessoas que o Deus colocou à minha volta que são esses 30 anos.

Quero terminar com um poema da Adélia Prado, que me acompanhou esses dias de reflexão sobre a vida, o tempo das coisas e a beleza do ordinário, se chama Meditação À Beira de Um Poema

 Podei a roseira no momento certo
e viajei muitos dias,
aprendendo de vez
que se deve esperar biblicamente
pela hora das coisas.
Quando abri a janela, vi-a,
como nunca a vira,
constelada,
os botões,
alguns já com o rosa-pálido
espiando entre as sépalas,
joias vivas em pencas.
Minha dor nas costas,
meu desaponto com os limites do tempo,
o grande esforço para que me entendam
pulverizaram-se
diante do recorrente milagre.
Maravilhosas faziam-se
as cíclicas, perecíveis rosas.
Ninguém me demoverá
do que de repente soube
à margem dos edifícios da razão:
a misericórdia está intacta,
vagalhões de cobiça,
punhos fechados,
altissonantes iras,
nada impede ouro de corolas
e acreditai: perfumes.
Só porque é setembro (e eu adapto: só porque é novembro)

29 de maio de 2023

O fator onda

Ontem compartilhei uma percepção com o pessoal da igreja, que nem sei se fez muito sentido, mas são algumas coisas que têm ressoado em mim esses dias. 

Minha história foi cercada por rigidez, por: eu "tenho que" ser dessa forma, "tenho que" me comportar daquela forma, atender às expectativas que existem sobre mim... Faz pouquíssimo tempo que eu comecei a me despir desses "tenho que", e aprender a ouvir o que disso tudo faz sentido para o que eu acredito, o que disso eu consigo sustentar. Aos poucos, saindo da rigidez.

Mas adentrar a espontaneidade é um caminho ainda a trilhar, confesso. E assim eu sigo buscando graça de Deus para o equilíbrio nessa dinâmica. E isso me fez lembrar a aula de surf que fiz em abril. Como eu só fiz uma aula, o professor focou em ensinar como levantar na prancha para tentar pegar uma pequena onda. Nós passamos uns 10 minutos na areia, aprendendo o passo a passo, o procedimento padrão para ficar de pé na prancha. Decorei a teoria, porque isso a pessoa rígida sabe fazer. Mas então chegou a hora de ir para o mar. E o conselho do professor foi: "sinta a onda te levando, usa o braço para equilibrar e segue o ritmo da onda".

No mar, o procedimento decorado não é suficiente. No mar, o fator onda te encontra, e te obriga a ir no ritmo dela. Para minha surpresa, não é que deu certo? Em um mar frio, junto a uma onda pequenininha, veio a diversão. Foi uma das melhores sensações da minha vida, me deixar seguir o ritmo daquela onda...

Ilustração: Michi Pichel

25 de abril de 2022

Amadurecendo com os processos

2022 tem sido um ano de viver e sentir as mudanças que foram acontecendo nos últimos anos em minha vida. A pandemia, a suspensão de muitas atividades presenciais, a instituição do trabalho remoto parcial, a mudança de fase de vida de amigos próximos, a ida do meu irmão para outro país, tudo isso chegou para mim e eu preciso lidar com isso. 

Do ponto de vista do trabalho, tenho optado por trabalhar presencialmente o máximo de dias possível. Me sinto mais focada no meu ambiente de trabalho, mas principalmente, me sinto mais motivada e feliz quando estou no trabalho presencial, frequentando outros ambientes para além da minha casa, interagindo com as pessoas, ainda que em menor quantidade, já que a maioria está em casa. 

Do ponto de vista de estar vivendo uma fase de vida diferente da maioria dos meus amigos, isso tem mexido comigo. Muitas vezes a pergunta é direcionada para Deus: por que Ele não tem me permitido viver o que eu gostaria de viver? Nesse momento a sensação é que eu não passei no teste, e por isso meu castigo é não poder ir para outra fase. 

E nesse sentido, mesmo sem querer a sensação é de solidão; a solidão de habitar sozinha a minha própria pele e viver meus processos sozinha, porque cada um dos meus familiares e amigos estão vivendo seus próprios processos, por mais que me amem, e queiram estar ao meu lado. Todas essas mudanças externas provocaram em mim um sentimento de descolamento da minha vida; um sentimento de não reconhecimento da minha rotina, das minhas escolhas, dos lugares onde estou hoje. 

Não vou negar, tem sido um processo doloroso e regado a lágrimas. Porque são muitas questões, especialmente com Deus e comigo mesma; e são questões de gente adulta, que vão exigir chorar o que eu preciso chorar, mas em algum momento me levantar e decidir continuar crendo no Senhor e na soberania dEle na minha vida; vão me exigir decidir então o que faz sentido para a minha vida e ir atrás disso. 

Mais de uma pessoa me disse que isso é só uma fase, e que vai passar. Sei que foi na melhor das intenções, mas não concordo com essa afirmação. Concordo que a vida tem fases sim, mas do jeito que eles falam parece que eu estou em transição para um outro momento. E que se eu respirar fundo rapidinho outro momento de vida vem. Mas não. Eu estou na vida, ela está acontecendo, e não é uma fase que logo passa; é o que eu tenho para viver, até que Deus decida me colocar em outro processo. E não há nenhum indicativo de quanto tempo esse processo que eu estou vivendo vai durar. E isso me causa mais uma vez o questionamento para Deus: tudo bem me fazer "repetir de ano", mas repetir de ano sem garantias que vou ser aprovada ano que vem? Quem aguenta isso?

Enfim, eu tenho que aprender a aguentar, tenho que amadurecer e viver os processos que Ele tem para mim. Porque é isso que tenho para viver. Mas mais do que isso, é o momento de exercitar a fé de que: 
1. Deus é bom, Ele quer o meu bem e Ele sabe para onde está me conduzindo. 
2. Apesar dos meus erros, dos meus medos e das minhas frustrações, eu estou vivendo o Plano A de Deus para minha vida. 

É preciso amadurecer a fé, e decidir prosseguir. Com gratidão no coração.

Ilustração por: 
Oliver Scully

27 de julho de 2021

Estragar tudo foi melhor do que não ter feito nada

Talvez um ano atrás poderíamos ter evitado o que estamos vivendo hoje. Eu poderia ter falado não. Você poderia nem ter tentado. Poderíamos ter evitado...

Mas a verdade é que a gente nunca sabe se viver o “se” é melhor do que viver o “sim”.

Talvez hoje eu estaria escrevendo não sobre a falta que você me faz, mas sobre a dúvida do que poderíamos ter sido capaz.

Nenhum dos dois nos trouxe paz.

Nosso "sim", trouxe a sua escolha do "não" e vamos viver para sempre na incerteza do "talvez".

Pra sempre é muito tempo ne?

Espero que um dia a gente entenda, que estragar tudo foi melhor do que não ter feito nada.    

Boa sorte pra gente!

Por: Flávia  Cavasotti em Podcast Boa sorte pra gente


    19 de julho de 2021

    Sobre autoconhecimento e egoísmo

    Faz um tempo que identifiquei que eu precisava me conhecer mais. Entender minha personalidade e meus gostos,  buscar meus sonhos, minhas principais formas de agir e pensar, e entender por que faço o que faço. O percurso do autoconhecimento, especialmente por meio de terapia é saudável e, para mim, tem sido muito valioso. 

    Mas percebi que esse exercício de "olhar para si" é um abismo, um caminho sem uma linha de chegada e que vicia. Há sempre questões sobre nós para conhecermos, pois somos complexos e mutáveis. E quanto mais a gente fica buscando nossas questões, nosso eu, menos a gente passa tempo olhando para algo além da gente. O que pode nos levar ao egoísmo, ao foco exacerbado no "eu", nos meus problemas, no meu desejo... 

    Se buscamos o autoconhecimento para preencher as lacunas do "quem sou eu", entramos em um labirinto existencial. Acontece que para quem crê em Deus e na Bíblia como eu creio, há uma camada mais profunda para adentrarmos em relação o autoconhecimento. Essa camada diz respeito a identidade, e ela começa em Deus, que é nosso criador. Segundo Rick Waren, em Uma vida com propósitos (2013, p. 22): "Somente em Deus descobriremos nossa origem, nossa identidade, nosso significado, nosso propósito, nossa importância e nosso destino". Nesse sentido, o autoconhecimento nos ajuda em aspectos de personalidade, das formas de lemos o mundo e agimos nele. Nossa identidade, por sua vez, só é respondida em Cristo. 

    Para mim esse entendimento foi uma revelação do Espírito Santo, porque eu estava misturando as coisas. Passei mobilizar toda minha preocupação, meu tempo, minhas expectativas em mim mesma, sob o argumento de que eu precisava me entender. Passou a ser "normal" olhar muito mais para mim: minhas preocupações, meu futuro, minhas vontades, meu, eu, meu, eu...por sua vez, o outro, os problemas do mundo, o meu próximo foram se distanciando. E isso não tem nada a ver com o Evangelho.

    O Evangelho diz da gente amar o outro como a nós mesmos, e diz da gente perder a nossa vida para encontrar.. ou seja, precisamos nos amar, mas nessa mesma medida amar o outro. Não ficar presos no "eu", mas abrir mão das nossas vontades, "perder nossa vida" para alcançar a verdadeira vida. É o contrário de ficar alimentando o ego, é ter um ego transformado pelo evangelho. Timothy Keller em Ego Transformado fala de pensar menos em nós mesmos: "Esse é o bendito autoesquecimento; é a humildade do evangelho. É não pensar em mim mesmo como se fosse mais do que sou, como nas culturas modernas, nem pensar em mim mesmo como se fosse menos do que sou, como nas culturas tradicionais. É simplesmente pensar menos em mim mesmo".

    E ao pensar menos em nós mesmos, temos tempo de pensar no outro, de amar e servir para além do nosso eu. Paramos de buscar nos provar, porque já temos a consciência de que nossa identidade está em Deus, e nos desobriga de ter que saber, ter que entregar, ter que ter as virtudes esperadas. 

    Essa é a liberdade. Essa é a autenticidade. 


    7 de janeiro de 2021

    Hábito de sonhar

    Recentemente na terapia me dei conta de algo intrigante: atualmente eu não sei dizer quais são meus sonhos. Sonho daqueles que se você investe tempo, dinheiro, abre mão de coisas, se esforça para alcançá-los.

    Não é que eu nunca tive sonhos. Pelo contrário, lembro-me de sonhar em ser uma jornalista de uma revista famosa. Lembro de ficar muito animada com o início da faculdade e todas as possibilidades que a vida me apresentava. Lembro-me de sonhar em ter meu emprego, minha mesa de trabalho, meu carro, de fazer uma viagem internacional, de ser dona da minha própria vida, casar e ser adulta.

    Mas hoje, 07 de janeiro de 2021 eu teria dificuldade de responder: quais os meus sonhos? Pensando um pouco sobre isso, identifico que passei muitos anos da vida executando alguns planos de curto e médio prazo sem muito parar para pensar nos sonhos. E nesse ritmo acabei não parando para delinear meus sonhos. 

    Sou profundamente grata ao Senhor porque tive a oportunidade de viver muitas boas experiências, e parte dos meus sonhos de infância, como ter meu emprego, meu carro, viajar já aconteceram. E ter vivido tudo isso entra para o rol dos motivos de gratidão e de olhar para trás com alegria, ao mesmo tempo que escancara que não dá para os meus sonhos pararem por ai. 

    Começando por traçar a diferença de sonhos e desejos/vontades/planos. Os sonhos são maiores que a gente, não estão ligados a puras experiências ou realizações. Envolve talvez nosso propósito, nossas inquiteções e questões que queremos contribuir para o mundo.

    Outro ponto que eu cheguei à conclusão é da importância de ter o hábito de sonhar. Parar, colocar a vida em perspectiva e identificar as vontades, transformando-as em objetivos. Perguntar a Deus como Ele deseja que a gente seja benção em nosso contexto; olhar ao redor, ver o que nos incomoda, e como podemos ajudar. 

    Por isso minha oração ao Senhor é que 2021 seja um ano de sonhos. Especialmente os sonhos dEle para mim. Que a vontade, que o sonhar, que o desejo por uma missão transbordem em mim.

    25 de novembro de 2020

    Deixar Deus agir

    Tenho a sensação de que muitas vezes vivi no automático, e correndo atrás de um ideal: de como eu acho que eu deveria me comportar, o que eu acho que eu gosto, o que me parece que eu deveria fazer, quais as expectativas das pessoas pareciam necessárias de atender.

    De repente, março de 2020 o mundo passa a viver uma pandemia. E nossa vida como ela era passou por muitas mudanças. Minha rotina foi reduzida a ficar em casa; cessaram meus muitos compromissos que davam a sensação de sentido, e as doses diárias de reforço positivo das pessoas/circunstâncias que eram necessárias para que eu continuasse correndo atrás dos ideais.

    E nesses tempos de minha vida ter sido mudada, passei a olhar para dentro, tentar dar nome ao que eu carrego. Separar o que é meu do que sou eu tentando atender ao ideal. Revisitar o que o Senhor Jesus e sua Palavra dizem sobre mim. 

    2020 foi um ano inesperado. Mas tenho me desafiado a não sair dele da mesma forma que entrei. Não é simples. Por um período de tempo me vi vazia; parece que a pandemia drenou meus planos, pessoas, expectativas. Mas nesse processo percebi a importância de deixar ir tudo o que me ocupava, mas não me preenchia. E foi possível deixar Ele agir. E me deleitar nEle.

    O desafio foi me abrir para a caminhada: única, particular, e que tem um guia amoroso e criativo: Deus. Ele sabe para onde está nos conduzindo. Ele tem um mapa e conhece cada etapa da viagem. O caminho é estreito, mas conduz à vida abundante.

    Tu, Senhor, manténs acesa a minha lâmpada; o meu Deus transforma em luz as minhas trevas (Salmos 18:28, Nova Versão Internacional) 
     
    Foto por: Luiza Azevedo (https://www.boredpanda.com/surreal-photo-manipulations-luisa-azevedo/?utm_source=br.pinterest&utm_medium=referral&utm_campaign=organic) 

    8 de outubro de 2020

    A cansativa busca por realização



    Precisamos nos lembrar de que muitos de nós esperam demais desta vida.
    Acreditamos todos que viveremos o Céu na terra, e então ficamos decepcionados quando a terra parece ser tão "terrena".
    Pouco resta do nosso desejo pela recompensa na próxima vida porque esperamos tal recompensa nesta vida.
    E quando toda experiência precisa ser recompensadora e precisa significar um avanço em nosso caminho para realização completa, de repente as decisões sobre onde devemos viver, que casa devemos comprar,  em que cama dormimos ou se devemos vestir um terno ou um jeans se tornam pesadas.
    Damos importância excessiva a cada decisão.
    Tenho certeza de que todos nós nos sentiríamos mais realizados se não tivéssemos essa fixação em realização própria.
    Kevin DeYoung 
    Livro: Faça alguma coisa

    21 de abril de 2020

    Conexão e Comunicação


    Ando pensando sobre a nossa capacidade de nos conectar com as pessoas. De comunicar o que estamos sentindo e de realmente ouvir o que o outro está sentindo. 

    Muitas vezes acabamos no automático: trocamos palavras com as pessoas, damos bom dia, boa noite, perguntamos como as pessoas estão, fazemos coisas que são confortáveis para todo mundo. Mas talvez o problema é que paramos nessa primeira camada do relacionamento. Não sabemos escutar. Não conseguimos apresentar nossas necessidades. Não sabemos acolher as necessidades dos outro.

    E assim a gente vai seguindo: pessoas pela metade. Escondendo parte do que somos, porque nossa conexão não chega nas camadas mais profundas, de forma que a gente não sabe o que está sentindo, o outro não sabe o que a gente está sentindo, a gente não sabe dizer o que está sentindo (e nem dá conta de dizer), e o outro não sabe perguntar o que a gente está sentindo (e nem dá conta de ouvir).

    Por essas questões, estou lendo o livro Comunicação não-violenta de Marshall B. Rosenberg. Uma amiga recomendou bastante e oro a Deus para que eu possa aprender ser uma pessoa que consegue se comunicar com os outros. Depois conto como foi.

    Ilustração por: Kathrin Honesta¹


    8 de janeiro de 2020

    Retrato - Cecília Meireles

    Eu não tinha este rosto de hoje, 
    assim calmo, assim triste, assim magro, 
    nem estes olhos tão vazios, 
    nem o lábio amargo.

    Eu não tinha estas mãos sem força, 
    tão paradas e frias e mortas; 
    eu não tinha este coração 
    que nem se mostra. 

    Eu não dei por esta mudança, 
    tão simples, tão certa, tão fácil: 
    - Em que espelho ficou perdida 
    a minha face?

    (Cecília Meireles , Antologia Poética. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001)

    8 de dezembro de 2019

    Finais, caos e recomeços

    Foto: biaPOF
    Quarto limpo, abajur ligado, sentada na minha cama, escrevendo. Essa é uma das sensações de paz mais simples e profundas que eu tenho. E fazia um tempinho que eu não sentia isso. Hoje completam-se 25 dias que meu namoro terminou. Foram dias de caos interior: pensamentos, lágrimas, medos e uma sensação de não ter chão.

    Eu digo caos, porque é a melhor definição da confusão que pensamentos e sentimentos misturados podem fazer! Mas esse caos não é soberano. Na verdade, ele é pequenino perto do Eterno, que nunca perdeu o controle de nada. Está ai o aprendizado mais valioso desse tempo: Deus sabe para onde Ele está me levando. Óbvio, não é? Mas é preciso apenas uma tempestade para nossa fé se abalar. É tão fácil quando temos a sensação de que o controle está nas nossas mãos... entretanto, fé é quando você está fora do barco, andando sobre as águas em direção a Jesus e começa a sentir o vento soprar contra você. Foi assim que eu me senti, como Pedro (Mt 14: 22-36).

    E estou aprendendo a declarar a cada dia: Deus conduz a minha vida; Ele conhece meu coração; minha vida não é aleatória e fruto simplesmente das minhas decisões, mas sim dirigida pelo Eterno, que é fiel, mesmo em meio ao meu caos.

    Que processo cheio de aprendizados! Sobre Deus. Sobre Sobre relacionamentos. Sobre o que realmente importa. Sobre amizades, sobre o amor dos meus pais. Percebi o quanto eu não sabia muita coisa sobre mim, minhas expectativas sobre relacionamentos, e o quanto características minhas de insegurança, de necessidade de controle interferem no relacionamento e que eu preciso trabalhar.

    E por fim, o aprendizado de ver que o sol raiou outra vez, e a Deus, o autor da vida nos chama para recomeçar: para cuidar do que Ele colocou em nossas mãos; para agradecer pelo ar, saúde e bençãos; para testemunhar do Amor.

    30 de outubro de 2019

    Aprender com o passado e honrá-lo

    Nós podemos recomeçar.
     Todos os dias temos segundas chances para nos tornamos quem sempre quisemos ser. 
    Podemos deixar o passado para trás ou podemos aprender com ele e honrá-lo.
    Podemos decidir.
    Nunca é tarde demais para mudar.
    (Greys Anatomy, 12ª temporada). 

    30 de abril de 2019

    O instante existe

    A Viviane, do blog Dreamland, faz essas ilustrações super fofas e bonitinhas, que ela intitulou de Cinnamon Series. O site é atualizado semanalmente com tirinhas ou ilustrações de 3...
    Ilustração: Viviane Tavares

    Esses dias me peguei cansada e insatisfeita, preparando uma aula para o dia seguinte. Aquele momento era a materialização de um dos sonhos da minha vida, que é ser professora, mas por vários motivos (as aulas não têm sido como eu imaginava) eu não estava realizada, pelo contrário, me sentia descontente.

    Enquanto isso, na mesma semana eu fui a dois velórios, que me fizeram lembrar da efemeridade do viver.

    Entre uma lágrima e um pensamento, Deus amavelmente falou comigo que enquanto eu estou cansada demais, insegura demais, problematizando demais sobre as tudo o que Ele tem me dado aqui e agora, essa é a vida, esse é o instante que existe. Enquanto eu coloco peso sobre as coisas que não têm importância, ou aguardo que algo aconteça (quando eu finalizar meu mestrado, quando meu cabelo crescer, quando eu aprender tal coisa), a vida está acontecendo, e eu não a estou vivendo plenamente.

    Percebi que tenho dado muito valor a coisas/aspectos/circunstâncias que podem até ser importantes para mim, mas que me impedem de ver o todo, de viver em alegria, de ser autêntica, de escolher a melhor parte, que é desfrutar o que Deus faz hoje. Tenho andado insatisfeita, como se algo estivesse faltando para eu começar a ser feliz. Mas me lembrei que a vida é aqui e agora. Nós não sabemos se haverá amanhã. E mais, não temos nenhuma garantia que o amanhã será como esperávamos que fosse. Ou eu sou feliz agora, com o que eu sou, com o que eu dou conta de ser, com as circunstâncias que Deus está me permitindo viver, ou eu vou esperar um estado perfeito do por vir, que pode nunca chegar, e que quando chegar eu já almejarei outras coisas.

    A Bíblia, como sempre, falou a esse respeito, em Eclesiastes:
    " É muito melhor ficar satisfeito com o que se tem do que estar sempre querendo mais" - Eclesiastes 6:9 (NTLH)

    27 de dezembro de 2018

    Sempre esteve aqui


    Pergunte às pessoas o que querem da vida e a resposta será simples: ser feliz. Talvez seja essa expectativa de querer ser feliz que nos impede de sermos felizes. Talvez quanto mais tentamos ficar em estado de alegria, mais confusos ficamos - até não nos reconhecermos mais. Ao invés disso, continuamos sorrindo, tentando ser as pessoas felizes que gostaríamos de ser.
    Até que cai a ficha, sempre esteve lá, não em nossos sonhos e esperanças, mas no conhecido, no confortável, no familiar.
    (Greys Anatomy - Episódio 22, 6ª temporada)

    12 de dezembro de 2018

    Solitude com Deus

    A vida é uma caminhada de solitude com Deus.

    E não há nenhuma melancolia ou aspecto ruim nisso. Pelo contrário, o quanto antes nós descobrirmos que ao fim e a cabo somos só nós e Deus, mais vida abundante teremos. Amigos, familiares, namorados, colegas... todos são muito importantes em nossa vida, alegram os dias e nos fazem crescer. O relacionamento é a essência do próprio Deus, que é três em um. É um princípio do Reino que caminhemos juntos, sejamos moldados uns pelos outros e compartilhemos a vida.

    Nos relacionar com os outros dá vida à nossa caminhada. Entretanto, existe algo que relacionamento nenhum preenche. Um espaço em nossa mente, os dias em que estamos sós, as angústias que temos por nos conhecer e não conseguimos traduzir para mais ninguém, mesmo aquela pessoa mais próxima que tudo conhece a nosso respeito.

    O passo anterior a fazermos trocas com as outras pessoas, é estar em paz com nós mesmos e com Deus. É Ele que ministra para nós quem somos, que leva o fardo que carregamos das expectativas que temos sobre nós mesmos, que me convence que a vida é sobre a Eternidade e o tempo que vivemos na Terra é apenas uma pequena parte dessa caminhada. Apenas Deus conhece tudo o que não mostramos ou mesmo o que não conhecemos sobre nós. 

    Na caminhada da vida, estaremos sozinhos em muitos momentos. Mesmo as pessoas que nos amam muito e nos querem bem não estarão conosco o tempo todo. Apenas Deus está conosco naquele intervalo entre uma programação e outra, naqueles segundos de antes de dormir e nos aspectos que não importa o quanto a gente tente, ninguém consegue entender o que estamos tentando explicar. 

    Ou seremos solitários, ou passaremos a vida exigindo e buscando que nossos relacionamentos preencham essa solidão, ou caminharemos em solitude. Chamo aqui de solitude estar em harmonia com o espaço que é somente de Deus em nossa existência. Curtir o silêncio que só Ele pode ouvir, e só com Ele dá para compartilhar.

    E que maravilha é saber que Ele ouve esse silêncio. Quanto refrigério pode existir em perceber que Ele te entende, que Ele tudo vê, que temos paz com Deus, e o livre acesso a Ele.

    26 de novembro de 2018

    Escolher ser sincera e amar a vida

    Veja, quanto mais eu envelheço, mais me pergunto:
    Como sua vida está se desenrolando em relação a seu objetivo principal que é o de viver com Deus para sempre?
    Ao mesmo tempo, estou descobrindo o quão importante a sinceridade tem se tornado. E estou me perguntando o quão perigoso é escolher não amar a vida que estamos vivendo
    Por: Brennan Manning

    10 de agosto de 2018

    Resumo dos sentimentos

    Eu olhei o meu dia
    Palavrantiga


    Eu olhei o meu dia, percebi
    Que Tu és melhor que uma canção de amor
    Muito mais do que eu canto
    Sob os cantos do mundo
    Um minuto contigo é melhor do que tudo

    É por isso que estar a ouvir Tuas palavras
    É olhar pra minha alma e saber que em Ti sou feliz

    Me esconda em Ti
    Eu preciso andar no Teu Caminho
    Teu amor sobre mim
    Muda os meus passos, ilumina meu rosto

    Eu olhei o meu dia, percebi
    Que Tu és melhor que uma canção de amor
    Toda arte que eu faço
    Todo som entoado
    Não é mais que uma grande vontade de Te conhecer

    Meu amor, sei que és o meu Deus e mistério
    E o Teu filho Jesus é na Cruz caminho de paz

    Me esconda em Ti
    Meu Deus, eu preciso andar no Teu Caminho
    Teu amor sobre mim
    Muda os meus passos, ilumina meu rosto

    8 de agosto de 2018

    Conhecer-se e se deixar ser conhecida

    Daqui a 10 dias faz dois meses que comecei um relacionamento. Para algumas pessoas pode ser "só mais um namorado na vida", mas para mim, essa decisão envolve tantos aspectos... Cresci com o ensinamento dos meus pais que eu só deveria pensar em namorado após os 18 anos. E eu levei a sério esse combinado com eles. Após os 18 eu estava em uma cidade diferente da que eu cresci, terminando o primeiro ano de faculdade e descobrindo quem eu era: reafirmando minha fé em Deus, construindo o que eu pesava da vida e do mundo. Conclusão, não foi aos 18 que comecei a namorar. Nem aos 20. Nem assim que me graduei na universidade. 
    Foram 24 anos me encontrando: olhando para mim e identificando meus gostos, minhas manias, minhas habilidades, minhas insuficiências, meus erros, meus acertos e meus sonhos. À primeira vista parece impossível que uma pessoa não saiba isso sobre ela mesma, mas esse foi meu caso: muitas vezes a gente vai vivendo sem se conhecer, sem olhar para si. Nos acostumamos com nós mesmos, sem raciocinar e ter dimensão de quem seremos nós em um relacionamento.
    Aos poucos eu fui aprendendo a olhar para Deus, para seu caráter e comparar com a minha vida: nisso a gente percebe todas as nossas faltas e exageros, e começa a pedir a Graça que vem dEle para ser alguém que o agrade. Foi nesse tempo também que eu fiz (e faço ainda) terapia, e comecei a refletir sobre minha vida e personalidade. Admiti para mim mesma minhas limitações e pontos fracos, e tracei planos de ação para buscar ser uma pessoa de quem Deus e eu tivéssemos orgulho.
    Esse não é um processo acabado. Nada disso eu conclui, mas já estava no caminho da longa  jornada que é me conhecer.

    E então dia 17/06 fui pedida em namoro. Por uma pessoa que eu conhecia há um ano, mas que intencionalmente a gente havia começado a se conhecer fazia 17 dias. Cada história é uma história, e eu sei que 17 dias é tão pouco para conhecer alguém e ter subsídios para decidir iniciar um relacionamento. Mas se eu era a pessoa mais desconfiada dos próprios sentimentos e dos sentimentos dos outros, 24 anos depois as coisas são diferentes. E eu digo com toda tranquilidade que não é por medo de ficar sozinha que eu decidi começar a me relacionar. Mas eu me conheço o suficiente para saber que a paz que tive em meu coração ao dizer sim, o fato de que meses antes eu orava entregando a Deus minha vida amorosa, o fato de que não sou mais uma adolescente buscando uma aventura romântica são todos fatores que confirmam a minha decisão.

    E paralelo ao processo de me conhecer entra a necessidade de me deixar ser conhecida. Dizer sim a esse namoro, por mais que eu já quisesse bastante (eu já gostava muito dele), me colocou em uma posição "desconfortável" e pouco usual na minha vida, que é de compartilhar esse meu processo de me conhecer com outra pessoa. Se é difícil admitir para mim meus defeitos, imagina para quem eu gosto tanto e quero agradar e ser correspondida!

    Tudo isso tem sido uma experiência construtiva e feliz. Tem tanta coisa em mim que dificulta relacionamentos, e que Deus está me ensinando. Com o tempo tenho me aberto para me deixar ser conhecida, ao mesmo tempo em que aprendo tanto com meu namorado. É interessante chegar em um momento da sua vida que você quer ser o melhor possível por Deus, por você e por outra pessoa (a quem você quer amar e garantir toda felicidade possível).

    Enfim, creio que a vida é um eterno conhecer-se.
    (e o Eterno tem muito a nos ensinar sobre nós mesmos).
    E quando vierem os relacionamentos, nosso desafio é nos deixar ser conhecidos.
    (isso só é possível se estivermos no caminho do autoconhecimento).
    E quão bonito é o processo de se deixar ser conhecido por outra pessoa!
    O quanto ela tem a nos desafiar sobre nós mesmos.
    O quanto a gente cresce juntos quando identifica algo sobre nós que decidimos fazer diferente pelo outro.   

    26 de maio de 2018

    Sonhos, arrependimento e amadurecimento

    Participando da dinâmica de quebra-gelo na célula ontem me deparei com a seguinte pergunta: "quando você era criança, o que queria ser quando crescesse?". Engraçado que não foi difícil pensar na resposta. Ela veio naturalmente: eu sonhava em ser jornalista. Sim, eu gostava de ler, de escrever, e meu sonho era especificamente escrever para revistas. Durante muito tempo eu estudei para tentar jornalismo no vestibular. No terceiro ano, porém, repensei minha escolha, refletindo sobre as possibilidades e futuro no jornalismo; e nesse meio tempo, outras possibilidades apareceram como Economia e Administração Pública.

    Olhando para minha profissão, minhas habilidades e tudo que já vivi, considero o jornalismo um sonho de criança, mas não há arrependimento algum em ter aberto mão desse sonho. Ainda amo escrever, contudo não é o que faço de melhor. Escrevo para me expressar, para deixar registrado o que estava pensando e sentindo, porque o que gosto mesmo é de voltar e relembrar tudo.

    E falando em relembrar, estava lendo as postagens antigas aqui no blog; a primeira é de 13/09/2008. Engraçado ver o quanto eu ainda não tinha vivido, e quais eram meus dilemas na época. Me deparei também com uma Beatrice que estava apagada dentro de mim: alguém que Deus era o primeiro a ser considerado nas circunstâncias mais triviais que fossem. As ansiedades, sonhos e incertezas já existiam, mas apesar da imaturidade havia um pouco mais de fé, um pouco mais de dependência do Criador e nos sonhos dEle para mim. Em que momento a confiança e a consequente decepção em mim mesma passaram a ser maior que essa dependência e a abertura para sonhar?

    Vivi muitas coisas nesses 10 anos, que me fizeram ser a pessoa que sou hoje e amadurecer; a despeito das incertezas de coisas menores no dia-a-dia, creio que as decisões que me trouxeram até aqui foram guiadas pelo Senhor. Os sonhos também amadureceram, se concretizaram, ou viraram história. Mas talvez, olhando para dentro e lendo meus textos antigos, esteja faltando trazer à memória quem é esse Deus que eu conheço, que coloca sonhos em nosso coração, e que tem poder para realiza-los.

    “Pois é Deus quem efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar, de acordo com a boa vontade dele.” -  Filipenses 2.13

    28 de novembro de 2017

    Este é o lugar onde a cura começa

    Hoje decidi recomeçar. 
    No fim do mês; no fim do ano, mas está decidido.

    Eu decidi recomeçar porque a alternativa a isso seria desistir.
    E por mais que esse sentimento possa nos assombrar, ainda que tantas vezes eu me sinta indigna, sufocada e incapaz, colocamos a mão no arado e não há tempo de olhar para trás.  

    A minha saúde, a minha família, as portas que Ele já me abriu. A vida que eu tenho porque Ele deu a sua vida. A Bíblia. O vento em meu rosto. Meu sentimento de querer ser útil às pessoas. Tudo isso só me diz que eu não posso desistir. 

    Afinal, para onde iremos, se somente Ele tem as palavras de vida eterna? Se são somente dEle as palavras que aquietam meu coração e fazem a existência valer a pena?

    E por isso nos resta recomeçar, pelas misericórdias que se renovam a cada manhã.

    Este é o lugar onde a cura começa
    Quando você chegar ao local onde você está partida por dentro
    A luz encontra a escuridão
    (Tenth Avenue North - Healing Begins)

    19 de setembro de 2017

    Mas a primavera virá

    Hoje são apenas 19 dias de setembro e esse mês já se mostrou o mais puxado de 2017.
    Isso porque eu estou em pleno processo seletivo do mestrado; fazendo uma disciplina isolada do mestrado e fazendo TCC. Essa combinação me exige uma carga de leitura e escrita muito grande. Como eu não fazia desde que eu estava na faculdade.

    Tem sido um tempo de muita dependência de Deus. Passar no mestrado, só se for pelo milagre dEle, já que eu não sou da área (estou tentando um mestrado na Geografia) e há muitas pessoas concorrendo comigo. O trabalho que apresentei hoje no mestrado, só foi possível porque Ele me direcionou e sustentou, e aparentemente gerou bom resultado.

    Geralmente quando eu estou atolada de tarefas eu foco na semana seguinte, em que eu poderei ficar livre, ou em alguma programação legal que tenho agendada, tipo uma viagem. Mas atualmente a minha "semana seguinte" não será livre, já que meu prazo para o TCC é 10/11 e o processo seletivo do mestrado ainda envolve a realização de uma prova, para a qual eu tenho que estudar.

    Conclusão, preciso de outro fato a que me apegar. Lembrei-me que a primavera está chegando. De acordo com os entendidos, esse ano vai começar às 17h02 do dia 22/09/17. A primavera virá!! Esse é um motivo de esperança. Minhas dificuldades e correrias continuarão ai. Mas a primavera é uma manifestação bela do Deus Criador, que está no controle de tudo.

    E é nEle que coloco minhas questões: meu futuro profissional, minha necessidade de ser mais disciplinada, minha célula. Acho que são esses três pedidos hoje para o Deus da primavera, o Deus Eterno.
    Imagem relacionada

    12 de junho de 2017

    A auto sabotagem ou autocomiseração?

    Sou a garotinha que muito cedo descobriu que se você faz o que as  pessoas esperam que você faça, você é reconhecida e recompensada por isso. E quem não gosta de ser reconhecida, não é mesmo? Desde pequena eu decidi ser comprometida, estudiosa e disciplinada; e por isso, tive reforço positivo dos meus pais, que ficavam orgulhosos de ter uma filha com boas notas, dos meus professores, que se sentiam realizados de ter uma aluna que prestava atenção e correspondia às expectativas deles, e dos meus amigos, que me viam como a inteligente e certinha. E eu fazia tudo isso sem peso, por prazer. Mas hoje eu percebo, que muito além das atividades, existia um sentimento de realização na forma como as pessoas me enxergavam.

    Essa menina cresceu, fez faculdade e iniciou a vida profissional. 

    Eu costumo dizer que a "vida real" se inicia quando você começa a trabalhar.  Isso devido à carga horária, às responsabilidades e expectativas que lhe são colocadas, e a missão de administrar seu salário para pagar as contas, entre outras coisas. Mas para mim a vida profissional me mostrou que não sou tão boa assim. Percebi que prestar atenção no que alguém está falando, ler um livro e depois reproduzir nas provas o que eu li é infinitamente mais fácil do que ter a habilidade de se comunicar bem, de conseguir fazer leitura do contexto e se comportar de acordo com o que a ocasião está exigindo, mesmo que nada esteja claramente dito, de ser criativa o suficiente para ver um problema e propor soluções.

    Boa parte da minha vida se resumiu a ser boa da maneira que eu entendi que era ser boa: reproduzindo comportamentos esperados de mim. E isso cabe uma longa discussão sobre o modelo de educação que temos nas escolas, que ainda compreendem a educação como "passar conteúdo" e não desenvolver pessoas, estimulando suas habilidades e potenciais. E então, quando você se depara com a vida real, ser boa aluna não é suficiente. Eu estou precisando me reinventar, encontrar em que de fato sou boa, reduzir as minhas expectativas sobre mim mesma e me esforçar muito para ser uma boa profissional.
    E vou confessar: é difícil e é cansativo. Desde que constatei essa minha situação, eu transito por dois sentimentos diferentes: o da autosabotagem e o da autocomiseração. Isso porque algumas vezes eu duvido de mim mesma, duvido da minha capacidade de conseguir conquistar algo. Me esqueço de que ainda que com todas essas limitações, essa não é uma caminhada solitária; se Deus me deu graça de chegar até aqui, é porque existe um esforço e um potencial que podem ser trabalhados. Deus é o Criador, que me formou, e me dotou de dons e habilidades, que ainda que mesmo não sendo totalmente desenvolvidos, eles estão sendo utilizados e chegar até aqui é uma prova disso.
    Por outro lado, o sentimento da autocomiseração bate à porta. Ele vem em forma de desânimo, de à essa altura do campeonato perceber que não sou tão boa assim e de ficar decepcionada comigo mesma. E eu entendo como autocomiseração porque se trata de uma resposta do orgulho (de achar que era algo e perceber que não se é) ao um coração ferido, decepcionado consigo mesmo. 

    Sei que  tanto a autosabotagem como a autocomiseração são um mecanismo de defesa diante de um sentimento de incapacidade. De fato tenho enfrentado desafios no meu cotidiano. Dia-a-dia desejo suprir as expectativas das pessoas e de um ideal de pessoa que eu defini para mim: preciso me comportar bem, preciso ter boas ideias, preciso ter opiniões inteligentes, preciso ser simpática, preciso me comunicar bem... tudo isso vira um fardo, de atender a tantas expectativas, que eu criei para mim, que eu deixei que as pessoas criassem. Mas é claro que eu não dou conta. E que ser humano nenhum dá conta de ser tudo o que a sociedade espera que ele/ela seja. Nesses momentos, me lembro de que nosso Senhor deseja uma vida abundante para nós, que não está relacionada em cumprir as expectativas das pessoas, mas de sermos completos nELE. E o texto que li em Salmos ontem ardeu em meu coração como uma resposta dEle que vou precisar lembrar todos os dias, nos meus dilemas do trabalho.

    Ele é o Deus que me reveste de força e torna perfeito o meu caminho 
    Salmos 18:32

    Só o Senhor me dá forças para seguir e me dá condições de cumprir tudo o que preciso, da melhor maneira que eu puder. Eu não vou fazer tudo perfeito, mas creio que Ele vai tornar perfeito o meu caminho!

    15 de março de 2017

    Do que vivi no Mochilão no Leste Europeu

    Meu irmão se formou no segundo semestre de 2016 e como presente de formatura organizou uma viagem; ele, eu e nossos amigos (mais especificamente 7) então fizemos um Mochilão para os países do Leste Europeu, passando pelas cidades: Viena, Budapeste, Cracóvia, Praga e Berlim (que já não é Leste Europeu, mas enfim).

    A primeira pergunta que nos fazem é: por que esses países? Paris, Londres, Amsterdã não seriam cidades mais bonitas e legais de se visitar? Bem, depende muito do que se deseja do Mochilão. Nós queríamos ir a lugares diferentes, fugir do que a gente já tem no mínimo uma noção de como é, conhecer a história desses lugares que a gente já ouviu falar (inclusive falar bem), mas não tínhamos muita ideia de como era.

    E assim foi: tivemos a oportunidade de começar pela Áustria, um país que já foi a sede de um grande Império na Idade Média: sua capital, Viena, é uma cidade bem europeia, refinada, com grandiosas e belas construções. Muito bonita, a língua oficial é o alemão, tem muitos parques, cafés. O império dos Habsburg, sendo o nome mais falado na Aústia: Sisi, apelido para Elisabeth. Ela era esposa de Franz Joseph I, dirigente máximo do império Austro Húngaro por volta de 1850. Em Viena presenciamos a neve, que embelezou os parques, deixando-os como nos filmes. Admiramos todos os palácios dos Habsburgs, Aproveitamos os cafés  e as salsichas vienenses.

    No Christmas Market em Viena, em frente ao City Hall

    Em seguida, depois de uma madrugada de emoções muito frio em Bratislava, chegamos em Budapeste, capital da Hungria. Budapeste é uma cidade que fez parte do Império Austro-Húngaro, então também tem lindíssimas construções. Para mim, foi o momento mais intenso da viagem, já que a cidade tinha muitos lugares a serem visitados, e cada um com uma particularidade: o Parlamento é maravilhoso, o Castelo de Buda e todo complexo na parte alta da cidade são lindos, a praça da igreja de St Mathew é fofa, o rio Danúbio e a ponte das correntes com a vista para o castelo de Buda é a paisagem mais bonita da cidade, a vista da cidade da Cidadela, os ruin Pubs, as águas termais. Conhecer Budapeste foi sensacional. A Hungria é um país que passou pela invasão Nazista antes da Segunda Guerra Mundial e depois pela ocupação comunista. Muitos judeus húngaros morreram nos campos de concentração. Muitas pessoas sofreram com a ditadura no regime comunista que só acabou em 1989. E até por isso sentimos um clima diferente da Áustria: uma cidade mais cinza, as pessoas com o semblante fechado, muitas pessoas em situação de rua. Além das boas lembranças da beleza de Buda outra coisa nos marcou: a falta de simpatia das pessoas com quem lidamos em Budapeste nos restaurantes, na rua, nas lojas. No geral, as pessoas não se mostravam felizes em nos atender: não sabemos se é uma característica do povo na cidade, se é o fato de 9 turistas latinos os incomodarem, mas fato é que brincamos que nunca fomos tão expulsos na nossa vida como fomos nos 4 dias em Buda. Mas hoje a Hungria é uma República Parlamentar e está tentando trilhar o caminho para a democracia e do desenvolvimento humano.
    Ponte das Correntes sob o rio Danúbio e Castelo de Buda ao fundo

    Cracóvia foi nosso destino após Budapeste. A única cidade que fomos que não era capital. A capital da Polônia é Varsóvia, mas devido à proximidade de Auschwitz, Cracóvia foi nosso destino. É uma cidade bem pequena, lembra muito nossas cidades históricas. Ficamos próximos a uma praça central, que abrigava uma igreja, o mercado central e um Christimas Market maravilhoso. Todas as cidades que passamos tinha um Christimas Market, uma espécie de "feirinha de Natal", toda fofa, enfeitada e que vendia comidas, souvenirs, enfeites... Cracóvia foi a cidade que mais aproveitamos a comida. O que dizer dos  Pierogi's? São uma espécie de pastel, mas com uma massa mais gostosa e diversos recheios. Em Cracóvia visitamos o Castelo de Wawel, um belo lugar com vista para o rio, torre e uma igreja. Visitamos também o museu da Fábrica de Schindler. Uma experiência de muito aprendizado sobre o Nazismo e a crueldade que os judeus foram submetidos.

    Castelo de Wawel

    Especificamente sobre Auschwitz, foi intenso. Um campo de concentração que denuncia a nossa capacidade de cercear a liberdade e sonhos das pessoas. Um lugar que era um vilarejo em que pessoas viviam suas vidas normalmente e que de repente são expulsas para se construir um lugar de trabalho forçado, de experiências médicas com judeus e de friamente assassina-los. Especificamente no dia em que fomos estava chovendo bastante, e mesmo muito agasalhados e calçados pudemos sentir um frio e perceber a tristeza que a atmosfera daquele lugar carrega. Entramos em algumas casas, nos explicaram o funcionamento do lugar, vimos o trem que trazia judeus de Cracóvia e o lugar em que eram separados os que iriam para o trabalho forçado e os que já seriam encaminhados às câmaras de gás. Como me esquecer da montanha de cabelos que foram ajuntados de quando se raspava a cabeça dos judeus quando chegavam lá. Sem contar a pilha de óculos e outros pertences que lhes era tirados quando chegavam. Em pensar que cada um desses óculos pertencia a alguém, que tinha uma história, identidade, sonhos e planos e de repente foi arrancado de sua família, colocado em um trem, e teve sua vitalidade arrancada. Foi um dia de muita reflexão, de perceber até aonde a natureza humana pode ir, e o quanto somos maus sem o amor de Deus em nós. 

    Auschwitz II

    No dia 29 de dezembro fomos para Praga. Particularmente era a cidade que eu mais desejava conhecer. Meu sonho era ver a biblioteca barroca e a Charles Bridge. Praga é uma cidade que se consolidou na era medieval, então podemos ver na praça principal essas características e histórias dessa época: principalmente o famoso relógio e duas igrejas. Em Praga também temos alguns bairros judeus, que na época do nazismo foram guetos, em que a população judia viveu de forma precária e desumana, mas que hoje podemos conhecer e visitar as sinagogas, o cemitério e memoriais. Praga também tem heranças do império Austro Hungaro e a dinastia Habsburg. Temos o Castelo de Praga e a catedral mais bonita que visitamos, na minha opinião, a Catedral de São Vito. Praga ainda tem belos parques, a ponte de Charles, que é maravilhosa, tem sua história da época do comunismo e a Primavera de Praga e ainda tem a parte mais moderna.
    A única coisa que não superou minhas expectativas foi o que mais queria ver: a biblioteca barroca de Clementinum, que nas fotos parece grande e mágica, mas na realidade você só pode ver de fora e é beeeem pequena. Ah, e a noite de ano novo não foi assim tão memorável. Foi legal, mas devido ao cansaço, ao fato de que a cidade estava lotada, e ao frio não nos esforçamos tanto para torna-la inesquecível. Resultado: 1 da manhã a gente já estava no hostel, prontos pra dormir.
    Ficamos 3 dias em Praga e nosso último dia foi uma correria, porque ainda não havíamos visto tudo o que tinha para ver. De comida, Praga me marcou pelo Trdelník, que é uma espécie de pão-doce enroladinho, que pode ser recheado. Uma delícia.

    Charles Bridge - vista mais maravilhosa de Praga

    Nosso último destino, mas não menos interessante, foi Berlim. Já não é mais Leste Europeu, e em pequenas coisas notamos a diferença: era uma cidade bem maior, onde vimos muito bem mais negros, já contava comum sistema de metrô que liga a cidade toda, e a própria Alexsander Platz, que é um centro de compras gigantesco com várias lojas de marcas multinacionais, representava bem essa cidade capitalista e cosmopolita. Por ser a última cidade do Mochilão, eu já não estava mais no clima de aprender e desbrava a cidade; eu queria mais era relaxar e ser uma turista gourmert, se assim podemos dizer, haha. Preciso destacar o hostel que ficamos, Circus Hostel, porque foi um dos mais em conta e muito fofo, confortável, com um café da manhã maravilhoso. As cervejarias também são bem famosas em Berlim e nós fomos em uma muito legal com uma comida ótima (aquelas que vão em uma cervejaria, mas falam é da comida, porque não tomam cerveja) que se chama Berlim Hofbräuhaus: é uma cervejaria tradicional, muito grande com mesas enormes e bancos rústicos, e os garços usam roupas típicas. Visitamos o muro de Berlim, no Free Walking Tour conduzido por um australiano e que não consegui entender quase nada, mas valeu a experiência. Mas o que mais me marcou em Berlim foi o Museu Judaico de Berlim, lugar que aprendi sobre a história dos judeus e o desenrolar do nazismo. Foi sensacional. Segue explicação do Blog Simplesmente Berlin sobre o Museu:
    O impressionante prédio do arquiteto Daniel Libeskind é uma obra de arte da arquitetura moderna que por si só já é uma atração. É um prédio cheio de simbolismos que conecta sua arquitetura com o tema do museu – seu desenho, suas formas, suas estruturas em si recriam atmosferas e contam histórias. A história dos judeus na Alemanha, a perseguição e o holocausto serviram de inspiração para Daniel Libeskind, um filho de judeus sobreviventes do holocausto, desenhar o prédio. O arquiteto chama seu projeto de “Between the Lines” (Entre as Linhas), pois para ele “são duas linhas de pensamento, organização e relacionamento. Uma é uma linha reta, mas quebrada em muitos fragmentos, a outra é uma linha tortuosa, mas que continua indefinidamente”. O prédio em forma de zigue-zague para muitos lembra a estrela de Davi despedaçada. A fachada do prédio é revestida de zinco e tem janelas que mais parecem cortes estreitos e outras com formatos diferentes e inusitados - BLOG SIMPLESMENTE BERLIM 
     Muro de Berlim

    Por fim, só tenho que concluir que a viagem foi extraordinária, entrando para a coleção das boas lembranças. E com as lembranças, ficam os aprendizados:
    • A que ponto o ser humano pode chegar com sua necessidade de ter poder e seu discurso de ódio: o nazismo não tem  100 anos. Não é algo antigo, que ficou no nosso passado. É o recente lembrete de até onde nossa falta de entendimento de que somos todos iguais pode ir. Como a natureza humana é caída e precisa de Deus, o verdadeiro amor que lança fora todo o medo.
    • Nós somos muito ocidentais: nossa forma de pensar, nosso comportamento, nossa sociedade baseada no cristianismo. Quando a gente visita esses países que são Europa, mas que estão mais no seu oriente, a gente já vê sociedades democráticas, porém diferentes da nossa. 
    • Países frios são lindos para se conhecer. Mas definitivamente prefiro meu Brasil com seu céu azul, e com o sol para alegrar meu dia.
    • Como a experiência de conhecer novos lugares e culturas, de preferência com os/as amigos/as, nos enriquece e me faz feliz!

    31 de janeiro de 2017

    Pastoreio

    Manhã de Domingo. Depois de muita chuva, o céu amanheceu azul. Céu azul, depois de muita chuva, é uma felicidade. Vou levar meu rebanho a passear. Convido meu amigo Alberto Caeiro a me acompanhar. Também ele é um guardador de rebanhos. “Minha alma é um pastor,“ ele diz. “Conhece o vento e o sol e anda pela mão das estações a seguir e a olhar. Toda a paz da natureza sem gente vem sentar-se ao meu lado…“

    Se alguém o chamar de mentiroso, dizendo que nunca o viu guardar rebanhos, ele logo explica que, de fato, ele não pastoreia ovelhinhas brancas de lã e berros. Suas ovelhas são as suas idéias, que ele leva a passear pelos campos.

    Os campos fazem bem tanto às ovelhas quanto às idéias, especialmente nesse dia lindo por fora, mas meio cinzento por dentro – que põe em mim uma sombra de tristeza. Mas meu companheiro logo me consola, dizendo que aquela “tristeza é sossego, é natural e é justa, e é o que deve estar na alma quando já pensa que existe e as mãos colhem flores sem ela dar por isso.“ Vou, assim, contente com a minha tristeza, levando minhas ovelhas, que estão visivelmente agitadas. Acho que sentiram cheiro de lobo no ar.

    Olho para o campo. Sinto que o outono está chegando. Suas marcas são inconfundíveis. Primeiro o ar, que fica mais fresco, quase frio. Uma brisa vai passando, brincando de fazer cintilar as folhas das árvores sob a luz do sol. Nas folhas dos eucaliptos ela toma um banho de perfume, e vem fazer cócegas no nariz da gente e nos pelos do corpo, que se arrepiam de prazer. Friozinho gostoso. Dali salta para o capim gordura e vai soprando as suas hastes floridas. As florescências de outono, eu as acho mais bonitas que as florescências de primavera. As florescências de primavera são “por causa de“. As florescências de outono são “a despeito de“.

    Acho as flores do capim gordura mil vezes mais bonitas que as rosas. Rosas são entidades domesticadas. Elas são como o leite das vacas de estábulo, aquelas vacas enormes, protegidas de sol e chuva, enormes olhos parados, obedientes, jamais pensam um pensamento proibido, só sabem comer, ruminar, parir, dar leite que se vende em saquinhos de plástico. Assim também são as rosas, crescidas em estufas, nada sabem sobre a natureza, tal como ela é, ora bruta, ora brincante – protegidas de sol e chuva, todas iguais, bonitas e vazias. As flores do capim, ao contrário, são selvagens. Inúteis todos os esforços para domesticá-las. Basta tocá-las com mais força para que suas flores se desfaçam. Elas acham que é preferível morrer a serem colocadas em jarra. As flores do capim só são belas em liberdade, tocadas pela brisa, pelo sol, pelo olhar.

    Eu não tenho a felicidade do meu amigo Alberto Caeiro, que dizia que só vê direito quem não pensa. Disse mesmo que pensamento é doença dos olhos. Entendo e concordo. Bom seria olhar para os campos e os meus pensamentos serem só os campos. Nos campos há árvores, brisa, céu azul, nuvens, riachos, insetos, pássaros. Você, por acaso, já viu uma ansiedade andando pelos campos? Ou uma raiva navegando ao lado das nuvens? Ou um medo piando como os pássaros? Não. Essas coisas não existem nos campos. Elas só existem na cabeça. Assim, se os meus pensamentos fossem iguais ao que vejo, ouço, cheiro e sinto ao andar pelos campos, o meu mundo interior seria igual ao mundo exterior, e a minha mente teria a simplicidade e a calma da natureza. Eu teria a mesma felicidade que têm os deuses porque, como o meu companheiro me segredou num momento de excitação teológica, nos deuses o interior é igual ao exterior. Eles não possuem inconsciente. Por isso são felizes.

    Esse felicidade eu não tenho. Vejo e penso. Lembrei-me do conselho de Jesus, de que deveríamos olhar para flores do campo.

    Olhei e elas começaram a falar. O que disseram? Disseram o que dizem sempre mesmo quando eu não estou lá. “Os seus olhos estão contemplando o que tem acontecido por milhares de anos. Por milhares de anos assim temos florescido. Por outros milhares de anos assim continuaremos a florescer. Muitos outros rebanhos perturbados como o seu já passaram por aqui. Mas deles não temos mais memória. Passaram e nunca mais voltaram. Desapareceram no rio do tempo. O rio do tempo faz todas as coisas desaparecerem. Por isso nada é importante. Nossas ansiedades também estão destinadas ao rio. Também elas desaparecerão em suas águas. O seu sofrimento se deve a isso, que você se sente importante demais, que você não presta atenção na voz do rio. Quando nos sentimos importantes nós ficamos grandes demais. E junto com o tamanho da nossa importância cresce também o tamanho da nossa dor. O rio nos torna pequenos e humildes. Quando isso acontece a nossa dor fica menor. Se você ficar pequeno e humilde como nós, você perceberá que somos parte de uma grande sinfonia. Cada capim, cada regato, cada nuvem, cada coruja, cada pessoa é parte de uma harmonia universal. Quem disse isso foi Jesus. Ele disse que para nos livrarmos da ansiedade é preciso ficar humildes como os pássaros e as flores.

    Aí o meu amigo Alberto Caeiro tomou a palavra e disse: “Quando vier a primavera, se eu já estiver morto, as flores florirão da mesma maneira e as árvores não serão menos verdes que na primavera passada. Sinto uma alegria enorme ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.“

    Eu fiquei assustado com essas palavras mas ele me tranquilizou. “Se você se julgar muito importante, então tudo dependerá de você. Mas se você se sentir humilde, então tudo dependerá de algo maior que você. Você estará, finalmente, nos braços de um pai ou no colo de uma mãe. E quem está nos braços do pai ou no colo da mãe pode dormir em paz…“

    Aí as flores do capim retomaram a palavra.

    “O inverno vem. Com ele o frio e a seca. Parecerá que eu morri. Mas minhas sementes já foram espalhadas. A primavera vai voltar, e com ela a alegria das crianças e do brinquedo". Está lá nas Sagradas Escrituras: “Lança o teu pão sobre as águas porque depois de muitos dias o encontrarás.“ Coisa de doido. Pão lançado sobre as águas some, não volta jamais. Mas é assim que acontece no rio do tempo. Ele é circular. O que foi perdido retorna. O que vem vindo é o que já foi.

    Olhei em volta e vi minhas ovelhas mansamente deitadas sob uma árvore…

    Rubem Alves 
    Em: A grande arte de ser feliz

    7 de novembro de 2016

    Dos diversos sentimentos

    4 meses e aqui estou eu: em meu lugar de dizer o que tem ficado guardado.
    Nesses meses eu mudei de trabalho, meus pais vieram para o Brasil e a célula multiplicou.

    ©       Sobre meu trabalho
    Eu estava me sentindo acomodada, não estava trabalhando da melhor maneira possível, por já estar naquele setor há 3 anos e pelas coisas lá estarem bastante estagnadas.
    Então recebi a interessante proposta de ir trabalhar em um outro lugar. Sai da secretaria em que já havia aprendido a rotina de trabalho, conhecia todas as pessoas e tinha ótimas colegas de trabalho e fui começar novo desafio. Esse processo eu coloquei diante de Deus. E tudo ocorreu de uma forma tão tranquila que em meu coração tive a certeza de que mesmo sendo uma decisão difícil  eu creio que estava no propósito do Senhor.
    Em relação ao novo trabalho, ainda estou passando por dificuldades Tenho tentado aprender e contribuir, todavia sinto que ainda não estou dando resultados satisfatórios. Meus dilemas com o exercício da minha profissão ainda são algo que preciso refletir e chegar a uma conclusão. Sou feliz com o curso superior que fiz e a oportunidade de trabalho que tenho. No entanto, há algo entre a complexidade do Estado e a minha pouca experiência profissional que tem me deixado frustrada comigo mesma.

    ©       Sobre meus pais aqui.
    Não houve nesse ano notícia mais feliz do que saber que eles estavam vindo para o Brasil. Eu não tinha nenhuma expectativa se vê-los antes de janeiro, e não imaginava mesmo que eles poderiam vir para a formatura do meu irmão. Mas graças ao bondoso Deus eles vieram. Entretanto, a vinda foi um passo de fé, porque o visto deles havia expirado e eles vieram para solicitar outro visto. Logo, havia chances desse visto ser negado. Nisso vimos mais uma vez a mão de Deus e o visto saiu. Agora estou aqui em casa, comendo comida da minha mãe, ficando no sofá com eles vendo filme, e planejando a festinha de formatura do André. Sou muitíssimo grata a Deus por esse refrigério no fim de 2016.

    ©       Sobre a multiplicação da célula.
    Coloquei a multiplicação da célula aqui para falar na verdade sobre o que tenho vivido com Deus e em igreja. A nossa célula multiplicou em setembro e me bateu um grande desespero por achar que eu não seria capaz de continuar a liderar uma célula tão pequena, boa parte das meninas mais envolvidas com a igreja. Mas pela Graça de Deus (sempre pela graça dEle) a célula tem caminhado. Ao mesmo tempo Deus tem colocado um profundo amor em mim pela comunidade onde congrego (Igreja Batista Central) e temos experimentado um tempo especial na igreja.


    Enfim, miscelânea de sentimentos.
    Feliz com os meus pais aqui. Preocupada com meu trabalho. Esperançosa com minha viagem de fim de ano. Colocando diante de Deus questões do meu futuro.


    "Os passos do homem são dirigidos pelo Senhor. Como poderia alguém discernir seu próprio caminho?" Provérbios 20:24



    4 de julho de 2016

    Eu sei que eu preciso de Ti
    Eu preciso Te amar
    Eu anseio Te ver, mas isso tem estado tão longe
    Eu anseio Te sentir
    Eu sinto essa necessidade por Ti
    E eu preciso Te ouvir, isso está tão errado?


    Agora Tu me levas para perto de Ti
    Quando nós estamos próximos eu temo a Ti
    E eu ainda tenho medo de te contar, tudo o que eu fiz.
    Estás disposto a perdoar?
    Tu podes olhar além dos meus fingimentos?
    Senhor eu estou tão cansado de defender o que eu me tornei.
    O que eu me tornei?


    Eu ouço Você dizer:
    "Meu amor é superior. Está embaixo
    Está dentro. Está entre nós
    O tempo que você duvida de Mim
    Quando você não pode sentir
    O tempo que sua pergunta é 'Isso é real?'
    O tempo que você está quebrado
    O tempo que você conserta O tempo que você Me odeia
    E o tempo que você se ajoelha
    Bem, meu amor é superior,
    Está embaixo, está dentro, está no meio.
    Esses tempos que você está cicatrizando
    E quando o seu coração quebra
    O tempo que você se sente como se tivesse caindo da graça
    O tempo que você está machucado
    O tempo que você cicatriza
    O tempo que você está com fome e tenta roubar
    O tempo de confusão, no caos e na dor
    Eu estou lá na sua tristeza, embaixo do peso da sua vergonha
    Eu estou entre a sua dor no coração
    Eu estou na tempestade
    Meu amor irá te manter, só pelo Meu poder
    Eu não me importo aonde você caia, onde você esteja
    Eu nunca te abandonarei, Meu amor nunca acabará"

    (Times - Tenth Avenue North)

    21 de junho de 2016

    O dia que ficamos chatos

    Estava viajando para Ipatinga de trem. Fazia um bom tempo que não ia para a cidade onde cresci, construí laços e tenho família. Era feriado, o que a gente quer é descansar em feriado; nesse caso, ficar indo e voltando de Ipatinga na verdade cansa. Para piorar, eu havia dormido apenas 5 horas de sono; então eu estava, digamos, lerda e sonolenta. Fato é que estava no trem torcendo para conseguir dormir a viagem toda e chegar o mais rápido possível em Ipatinga.

    Mas então o que me reserva? Um vagão cheio de pessoas ansiosas pela viagem de trem. Havia uma família que estava viajando junta e que pediu para o trem não fazer frio "porque frio dá sono e e a gente não quer dormir, quer aproveitar a viagem". Havia crianças felizes (muito felizes) adorando cada momento; principalmente quando o trem passava no túnel, eles ficavam gritando um pro outro repetidas vezes: "o túnel, o túnel, o túnel". Também não posso esquecer da adolescente ao me lado que muito preparada para a viagem trouxe uns 3 todynhos e ficava tomando o todynho até a última gota fazendo aquele barulhinho irritante.

    Enfim, depois de me ver irritada nessa viagem percebi que estava ficando chata. Sim, eu poderia abrir um parêntese e dizer que estava de TPM esse dia e essa seria minha desculpa. Mas percebi que não, que se a gente não se policiar a nossa tendência é ficarmos chatos mesmo. O dia a dia, o meu cansaço, o fato de já ter viajado de trem várias vezes acabaram me impedindo de achar aquela viagem agradável. Tudo estava me irritando. E com razão, na verdade. Eu estava cansada e o trem estava uma barulheira só. Mas e daí? Em que meu mal humor adiantaria? 

    Vamos ficando mais velhos e perdemos a sensibilidade de encarar as coisas como diversão. Lembro-me que quando éramos mais novos tudo era festa: lavar o quintal era motivo para brincar com água, acordar cedo pra viajar não era um problema (na verdade a gente nem dormia de tanta ansiedade), andar de ônibus era diversão. Hoje qualquer coisa que tire nosso conforto e inércia nos deixa insatisfeitos. E o pior é que nos irritamos porque as outras pessoas estão se divertindo. Na nossa opinião eles são "bobos alegres", enquanto talvez nós é que sejamos os rabugentos. Ou seja: nos tornamos pessoas chatas. Acredito que o primeiro passo é percebermos nossa chatice e então lutar contra ela. É por isso estou aqui escrevendo esse texto no trem :))

    13 de março de 2016

    Viva às memórias!

    Um prazer atinge sua plenitude somente quando é relembrado. Homem, você está falando como se o prazer fosse uma coisa, e a lembrança outra. Tudo é uma coisa só. O que você chama de lembrança é a última parte do prazer [...]. Quando você e eu nos conhecemos, o encontro terminou bem rápido: não foi nada. Agora ele está crescendo  à medida que nos lembramos dele.Mesmo assim sabemos muito pouco a respeito dele. O que ele vier a ser quando eu me lembrar dele na minha morte, o que ele operar em mim em todos os dias até aquela hora... esse é o verdadeiro encontro. O outro foi só o início. 
    [...]
    Na verdade - prosseguiu- o poema é um bom exemplo. O verso mais esplêndido atinge o seu completo esplendor somente por intermédio de todos os versos que o acompanham. Se você voltasse a ele, haveria de consider á-lo menos esplêndido do que imaginava.
    C.S. LEWIS - Além do Planeta Silencioso (pg. 96 e 97)

    Esses dias estava refletindo sobre os momentos na vida que mais me deixaram contente e me dei conta que são diversas ocasiões e circunstâncias: desde momentos de jantar com meus pais, viagens, saídas com os amigos, ser bem recebida por pessoas que eu não via há muito tempo...
    Mas o que esses momentos têm em comum é que eles viraram MEMÓRIAS para mim. E me dei conta o quanto essas memórias é que movem minha vida.

    O que mais me deixa feliz é olhar para trás e perceber que meus momentos foram bem vividos. E como bem vividos quero dizer na presença de pessoas que amo, com boas risadas, aproveitando aquele instante para lembrar dele depois com imenso carinho. Simples assim. Olhar para trás ter a certeza que tenho histórias para contar, que minha existência foi preenchida por ocasiões felizes, por pessoas especiais. Que vou terminar a vida e ter a certeza que foi cheia de experiências que me fizeram crescer, aproveitando o que Deus me deu.

    A maior satisfação é a lembrança de que os bons momentos existiram. Por isso, façamos como a música Montreal, dos Arrais: plantemos memórias dessa vida e as reguemos com recomeços, se preciso for.

    17 de fevereiro de 2016


    Um dia vi Deus numa palavra
    e luminosa despontava, argila.
    E Deus vagueava tudo, aquietava
    as luminosas letras, quase em fila.

    E depois se banhava nesta ilha
    de bosques e bilênios. Clareava
    as formigas noctâmbulas da fala.
    E nele os meus sentidos se nutriam.

    Os meus sentidos eram coelhos ébrios
    na verdura de Deus entretecidos.
    A palavra empurrava o que era cego,

    a palavra luzia nos sentidos.
    E Deus nas vistas do menino, roda
    e roda nos olhos da palavra.


    (Carlos Nejar)